No fim de 2004 eu ganhei o livro do Zeca Camargo A Fantástica Volta ao Mundo. Um derivado do quadro do Fantástico onde o apresentador visitava diversos países do mundo, mas quem escolhia o próximo destino era o público através de votação telefônica. Eu já tinha ficado impressionado com a ideia de viajar sem destino e lembrava bem por alto do programa na TV. Era meu último ano no curso de turismo, e me deparei com o Camboja nas páginas do livro. Eu caí de amores por aquele país. Mas levou 12 anos pra eu conseguir colocar os pés lá.
Nesses 12 anos que antecederam a viagem, o Camboja foi caindo no gosto e no conhecimento das pessoas: em 2000 a Angelina Jolie havia gravado cenas do Tomb Raider nos templos de Angkor e dois anos depois adotou uma criança cambojana, colocando o país no radar da mídia. O crescimento das viagens ao sudeste asiático também ia aproximando o país dos brasileiros. E eu ia lendo, consumindo tudo que conseguia daquele lugar. Por um tempo o desejo de visitar as ruínas de Angkor Wat até ficou adormecido: era longe, era caro, a estrutura não estava clara. Até que…
Um dia na agência duas amigas me chamam pelo whatsapp querendo viajar “pra qualquer lugar”, queriam sugestões de destinos mas tinha que ser algo exótico. Logo pensei: sudeste asiático, Tailandia, Indonésia, algum lugar pelas bandas de lá. Papo vai, papo vem, elas amaram a sugestão. Fechamos o ponto de partida em Bangkok e íamos desenvolver o roteiro assim que achássemos uma passagem interessante. Nessa altura já eram 7 pessoas pra viajar. Fecharam em 9 no final e eu resolvi ir junto. Consegui uma tarifa especial com a Etihad e emitimos um Confins/Bangkok via São Paulo e Abu Dhabi. Aí eu pensei: Bangkok é do lado do Camboja, literalmente 50 minutos de voo até Siem Reap. Quase um BH/Rio. Joguei a sugestão pro grupo e eles compraram. Eu ia conhecer império Khmer.
Em novembro de 2016, por volta de 18h00, nós pisávamos em solo cambojano. Não sem antes ter perrengues nos voos, como eu te conto aqui. E não sem antes solicitar o visto cambojano aqui do Brasil, pra não ficar refém dos agentes de aeroporto que até então, eram notadamente conhecidos por suas práticas pouco transparente. Sim, estamos falando de propina, de segurar seu passaporte, de te cobrar a mais pelo visto. Com um grupo grande, eu queria evitar problemas a todo custo. E deu certo.
O hotel que reservamos já tinha o serviço de transfer incluído nas diárias, então foi sair do aeroporto – bem simples, mas muito bonito, comprar um chip de internet e ir pro hotel. Nos buscaram numa van com água e toalhinhas geladas, uma benção pro calor que fazia. Viajamos no inverno cambojano e frio foi algo que não encontramos lá. Na verdade o inverno deles é a estação seca, livre das chuvas torrenciais que as monções provocam na região. Algumas regiões do Camboja, como Tonlé Sap por exemplo, podem ficar até 6 meses alagada. Viajar nessa época nos dava mais segurança em relação ao clima.
No caminho do aeroporto até o hotel, tentávamos absorver o que dava pra ver de Siem Reap. Já sabíamos que seria duro pois o Camboja é um dos países mais pobres do mundo (14a posição em 2019, segundo a Focus Economics, medindo renda percapita). E as ruas nos mostravam exatamente essa realidade: terra batida nas ruas e estradas vicinais, carros velhos, muita moto e tuk tuk, gente simples, pés descalços, iluminação pública na base da gambiarra. Por uns dois segundos você pode até pensar: o que eu vim fazer aqui? Mas aí lembra dos lugares lindos. E de repente um cambojano fala com você. Aí você entende porque esse lugar é tão incrível.
Gambiarra é uma expressão brasileira com vários significados, mas que geralmente quer dizer improviso, como se fosse uma “técnica” para construir ou arrumar alguma coisa. Nessa história a gambiarra era elétrica mesmo. Postes com muitos, mas muitos fios pendurados e colocados de qualquer jeito.
Quase meia hora depois, chegamos ao hotel. Fomos recebidos com um suco típico e muita simpatia. Pés na piscina, agora era tentar domar a ansiedade até o dia seguinte, quando iríamos ver o nascer do sol em Angkor Wat. Acha que conseguimos simplesmente tomar um banho e descansar? Claro que não, queríamos experimentar a cidade. Partimos pra famosa Pub Street. De tuk tuk.
Se nossa primeira viagem pelas vias de Siem Reap havia sido feita no conforto de uma van com ar condicionado, dessa vez a viagem era mais raiz. 4 pessoas enfiadas na traseira de um tuk tuk aberto, com um motoqueiro que não falava um A em inglês e ignorava por completo as leis de transito como conhecemos. Lá é mão inglesa, o que já nos causa uma impressão diferente, e se ele precisava entrar numa rua há 500 metros, que ficava no sentido contrario do tráfego, qual o problema de ir na contra mão? Nenhum. Isso era uma tônica. Todo mundo fazia e a velocidades consideráveis. Sem batidas ou acidentes. Bem vindo ao novo normal.
Se nossa primeira viagem pelas vias de Siem Reap havia sido feita no conforto de uma van com ar condicionado, dessa vez a viagem era mais raiz. 4 pessoas enfiadas na traseira de um tuk tuk aberto, com um motoqueiro que não falava um A em inglês e ignorava por completo as leis de transito como conhecemos. Lá é mão inglesa, o que já nos causa uma impressão diferente, e se ele precisava entrar numa rua há 500 metros, que ficava no sentido contrario do tráfego, qual o problema de ir na contra mão? Nenhum. Isso era uma tônica. Todo mundo fazia e a velocidades consideráveis. Sem batidas ou acidentes. Bem vindo ao novo normal.
Descer na Pub Street foi um choque dos bons. Veja, nosso hotel ficava numa região bem próxima dos templos e atrações que íamos visitar. Uma rua lateral em uma avenida, um lugar calmo e tranquilo. A Pub Street era o centro da cidade, fervendo, pulsando, cheia de gente. Foi lá que tivemos o primeiro contato com algo que se repetiria nessa viagem: as ruas cheias de bares, cada um tocando bem alto uma musica diferente, e um monte de gente dançando e bebendo na rua.
Foi lá também que tivemos o primeiro contato com os preços das coisas no Camboja. Um cerveja: USD0,30. Uma vodka com Red Bull: USD0,50. Um hambúrguer num restaurante bom: USD1,00 – isso porque carne de boi é cara por lá. E isso se estendia a artesanato, coisas no supermercado, lanches… Enfim, tudo bem barato. E com as coisas nesse preço, voltamos pro hotel bem “relaxados”, digamos assim. Não dava pra enfiar o pé na jaca, como dizemos aqui em Minas. Era preciso descansar depois de 26h de voo, quase 40 horas de viagem no total, contando as conexões.
No dia seguinte iríamos sair do hotel às 4h00 e eu ia finalmente ficar de frente pro meu sonho de 12 anos.
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